31 de dezembro de 2007

Não fora a galinha, não era eu alfacinha


Passeamos pela aldeia, ando eu à cata da casa onde passei curtas temporadas da minha infância. Encontro-a, com o seu alpendre debruçado sobre o pátio onde os galináceos debicavam o grão de milho e me incomodavam o sono.

É hora de jantar e, cá fora, um jovem termina o passeio que deu com o seu velhote e ajuda-o a sair da viatura, largando-o, com um abraço carinhoso, à porta de casa. É o n.º 6 e o velhote é vizinho da casa dos meus verões longínquos. Comento para a minha companhia que se parece com o vizinho, o meu Primo Henrique, que Deus o guarde. Tem o mesmo chapéu de veludo preto, que antes me fazia sonhar com cóbois, o mesmo casaco negro gasto e a mesma camisa branca, bem abotoada no pescoço.


O velhote, guardando-me nos olhos, dá-me, polidamente, as boas noites.


Eu retribuo o cumprimento, em Roma sê romano e na aldeia as gentes falam-se, mesmo se nunca antes se viram. Encho-me de coragem e indago se ele conhecia o Senhor Henrique.
“Vamos lá ver, se estamos a falar dos antigos? Está a falar do Henrique Padeiro?”, pergunta ele no seu forte sotaque beirão – o leitor citadino que troque o duplo esse por xis, o esse solitário por gês, bote um u antes de algumas vocais e terá uma ideia.


“Olhe, isso não sei. Sei que era primo do José Ramos. Conheceu o José Ramos? Eu sou neto dele.”


Ele faz uma pausa, encolhe-se, põe a mão no peito (seria provavelmente sugestão, mas pareceu-me que se lhe marejaram um pouco os olhos), tira o chapéu e quase grita: “O José Ramos? Oh, homem, nem me fale no José Ramos! Então eu brincava com ele, fomos gaiatos juntos. Tinha eu catorze anos quando o tio o chamou para Lisboa.”


Ai, o José Ramos. Nem me fale no José Ramos.

“Um dia havia um jogo entre a Travancinha e o Seia. E o José Ramos tinha um amigo, éramos todos amigos, naquele tempo, mas havia assim uma rivalidade. E então, eles, que eram amigos, mas que no jogo era para levar a sério, combinaram que no fim do jogo ia haver um jantar para oferecer à malta. E que o Seia começaria a ganhar dois a zero mas que depois deixavam-se empatar e ficava tudo quite. Só que o Seia ganhou dois a zero e no fim não havia banquete para ninguém, nem para os de Seia, nem para os de Travancinha. Olhe, o José Ramos não descansou enquanto não houve vinho para todos e uns amendoins. E, quando estava já tudo a comer e a beber, perguntou um de Seia se ele também não comia. E sabe o que é que o José Ramos respondeu? Disse assim: “Agora, já não preciso. Não, agora já não preciso””, como se não quisesse partilhar a mesa. Como se quisesse apenas ensinar aos “lá de Seia” o que era a hospitalidade de Travancinha.

“Olhe, era danado, o José Ramos. Tinha um jeito para as beatas, vivia rodeado das beatas”.

A moçoila que estava comigo disse que o neto tinha a quem a sair…

O velhote fez um sorriso maroto e abanou os ombros, num meneio de sabedoria que os anos lhe deram, traduzindo o melhor que podia que ela se devia conformar com os genes malandros do avô.


E acrescentou “Pois, nos bailes as beatas vinham sempre à beira do José Ramos. Pudera, era um homem bonito!”

“Ai, nem me fale no José Ramos! Com ele, não havia fome, nem havia sede! Mesmo depois de o tio o ter chamado para Lisboa, ele continuou a cá vir. E só lhe digo, com ele não havia quem passasse fome, nem quem tivesse sede.”

Então, e como foi isso de ele ter ido para Lisboa?

“Essa é uma história de outros tempos, dos antigos. Então, o António Ramos, o tio do José, trabalhava na Câmara de Seia. Não era chefe, era apenas um empregado. Um dia, estavam os gaiatos todos para Seia, e foram atrás de umas galinhas. É que naqueles tempos não era como hoje, as galinhas andavam aí pela rua. E então perseguiram umas galinhas e, olhe, o António pegou numa galinha e atravessou-a”


A moçoila, para quem o velhote, respeitosamente, sempre dirigiu a conversa, perguntou: “Comeu-a?”


“Pois – confirmou – , atravessou-a. Só que o moço foi contar ao padre. E, claro, o padre contou ao dono. Que era o patrão na Câmara de Seia. E o patrão despediu-o. E então o tio António teve de ir para Lisboa. E quando o sobrinho fez catorze anos, chamou-o para junto de si.


Mas o José Ramos continuou a cá vir. E quando vinha, não havia sede, nem havia fome.”


Ai, nem me fale no José Ramos.

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Back to basics


"Àquela hora, decerto, Jacinto, na varanda em Torges, sem fonógrafo e sem telefone, reentrado na simplicidade, via, sob a paz lenta da tarde, ao tremeluzir da primeira estrela, a boiada recolher entre o canto dos boaideiros."

Eça, A Civilização

Não foram os bois, foram as ovelhas. Um rebanho considerável, e muitas negras. A pastora parecia correr, bem dizíamos as boas tardes, na esperança de recebermos instrução das coisas simples. Ela não queria nada connosco, parecia navegar sobre o manto verde, o rebanho obedecendo como se fosse um único animal, correndo, bem ensinado , em formação de quadrado, um carneiro centurião protegido pelo seu harém lanudo. A pastora pendurava nos braços viçosos uma ovelhinha. Depois de muita insistência, lá afrouxámos o passo da danada. E questionámos, com curiosidade e com deslumbramento, como não sentíamos desde os tempos idos da escola, porque trazia ela a borreguinha pelo cachaço.

"Acabou de nascer, ali pelos campos. Ainda não consegue andar com jeito."

"Acabou de nascer, como? Há quantos dias?"

"Há uma hora ou duas. Atrasou-me. A mãe pôs-se a lamber o pêlo todo e a comer a coisa"

"A placenta?"

"Pois, isso, a placenta" - baixando o olhar e mirando, tímida, o solo enquanto pronunciava, quase muda, essa palavra dos doutores.

"Posso fazer-lhe uma festinha?"

E a pastora consentiu, como se lhe tivessem feito o mais excêntrico - e infantil - pedido.

Mal botámos a manápula na borreguinha - que trazia ainda pendurado no ventre um fio escarlate vivo-, ouvimos um bramido ameaçador por detrás, era a ovelha negra em desespero maternal.

Como o Jacinto queirosiano, em silêncio duvidámos do mote: "Quem não admirará os progressos deste século?"

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17 de dezembro de 2007

Canal Soez


nasal hair problem
Originally uploaded by John (B)

Irrompeu-se-me este trocadilho fácil com o seu púdico (mas razoável) comentário. Mas eu páro já com a pogonologia, prezado MCP. Ainda que me pareça um assunto fascinante.

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14 de dezembro de 2007

Pogonologia

Meu caro JB, pois eu cá acho que um homem sabe estar acabado, outrossim, quando, barbeando-se ao espelho, considera, pela primeira vez, desviar a lâmina Gilette do seu percurso quotidiano de modo a ceifar aquele surpreendente e jovem pêlo nasal. E mais certo fica do termo do seu masculino apogeu quando o dito, moqueando do ridículo esforço de recuperação da perdida viçosidade juvenil, recrudesce, mais moçoilo,mais irrequieto, mais grosso, mais pimpão e ainda mais oblíquo, umas poucas manhãs depois.

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Dicas para o sapatinho

Folheei o livro e pareceu-me interessante. Intrigou-me que o Umberto se tivesse lembrado de escrever uma biografia do nosso Presidente da República, mas afinal o material é mais abstracto.

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11 de dezembro de 2007

Retalhos da vida de um consultor

Aproveitando sofregamente os últimos 15 dias em que se pode matar o vício no estaminé, fui à cafetaria injectar nicotina. Quando regressei, tinha este poster pendurado, recordando o saudoso Justiceiro, embelezando o meu posto de trabalho. Uns queridos, hmm, estes colegas, hmm.


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10 de dezembro de 2007

O prudente

Tinha tanto medo do fracasso que, determinado, entornou o sonho, libertando-o, cano abaixo.

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5 de dezembro de 2007

For the company


Ou muito me engano, ou daqui a uns dias um blogue desactivado há muito vai finalmente sofrer uma actualizaçãozita...
Post-templatum: Nem de propósito, pesquei aqui uma bela posta. De peixe.

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4 de dezembro de 2007

Da hedionda redonda

-10º logo à noite.
Pode ser que o Luís Filipe e o Dí María apanhem uma pneumonia.
Pode ser que as radiações de Chernobyl transformem o pé direito do Cardozo num segundo pé esquerdo.
E que o David Luiz e o Luisão neutralizem a Maria Amélia.
Se, como é provável, nada disto acontecer, lá ficamos a disputar o acesso à Liga dos Campeões do ano que vem com o Vitória de Guimarães.

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29 de novembro de 2007

Xe(i)que Russo


Tempos idos, vivia do e para o xadrez.
Facilitaram-lhe a vida: hoje vive no xadrez.


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26 de novembro de 2007

????

Na festa de aniversário da velha Pergunta Sincera, último exemplar vivo de uma espécie em vias de extinção, a sala de interrogatórios foi bombardeada por muitas perguntas, embora tantas outras tenham ficado no ar. Entre elas, a própria Pergunta Sincera, que, para surpresa das restantes, não compareceu.

Para quebrar o silêncio, e porque não tinha nada a perder, a Pergunta Redundante chegou-se à frente para fazer um oco e interminável discurso de comenda. Como se não bastasse a verborreia da Pergunta Redundante para distrair as atenções, estavam tantas Perguntas Indiscretas na ocasião que as outras não conseguiram ouvir quase nada do discurso.

Felizmente, uma intrusa, a Resposta Categórica, dando um urro e um murro na mesa, de uma penada calou as irrequietas Perguntas Indiscretas, impondo a solenidade que o ocasião exigia.

Aproveitando-se do momentâneo silêncio, a Pergunta Intrigante insidiosamente sibilou aos ouvidos das suas comadres, as Questões Mais Frequentes:
“Olhem lá, aqui entre nós, vocês nunca desconfiaram da relação entre a Pergunta Sincera e a Pergunta Especulativa?”
“Entre a Pergunta Sincera e essa milionária?”, retorquiram, em tom de virgem arrependida, as Questões Mais Frequentes.

Enojada com a infame insinuação, a Resposta Evasiva deu rapidamente à sola.

Mas com tanta Questão Mais Frequente presente, depressa o boato cresceu e chegou aos ouvidos das Perguntas dos Leitores, que trataram de o fazer chegar à imprensa escrita.

Ainda assim, houve uma minoria que desconfiou do rumor, como a Pergunta Lógica, que quis saber porque carga de água precisaria a Pergunta Especulativa da Pergunta Sincera.

Ao que a Pergunta-que-Traz-Água-no-Bico retorquiu, entre dentes, se a questão fundamental não seria a inversa.

De pergunta em pergunta, lá se foi esquecendo o motivo desta história toda.

Numa última tentativa, tentando colocar os pontos nos ii, a Pergunta Difícil questionou os presentes se sabiam a razão da ausência da última Pergunta Sincera.

Deste modo, uma homenagem falhada transformou-se num feliz evento, pois tinha vindo ao mundo uma recém-nascida. A Pergunta Sem Resposta.

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21 de novembro de 2007

Direito de resposta

A propósito disto, caro João, e como hoje acordei, ó horror dos horrores, vascopulidovalentiano dos pés à cabeça, tenho a dizer o que segue.
Portugal tem dois caminhos possíveis: ou aceita de uma vez por todas os Portugueses tal como eles sempre foram, são e serão, ou lhes move uma acção de despejo.

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19 de novembro de 2007

XL

Quanto mais convivo com crianças, mais acredito que a pergunta certa seria: o que não queres deixar de ser quando fores grande?

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16 de novembro de 2007

Requiem da posta

Pelo MCP, o único leitor que sente falta das alarvidades que aqui são escritas (será mal de emigrante, mas isso com o tempo cura-se, suponho) me penitencio pelo longo interlúdio nestas lides. Garanto-vos que não se trata de preguiça, timidez ou, sequer, falta de inspiração. Preguiçoso serei bastante, mas apenas quando se trate de tarefa com contrapartida monetária. Tímidez é qualidade que não possuo (de muitos cuidados me teria livrado se a tivesse na medida certa). A falta de inspiração é manifesta, mas não me tem impedido de escrevinhar estes disparates que, pese a vossa inteligência, persisteis em ir lendo.

Não, não se trata disso. É mister de outra cousa. A causa da minha recente apatia prende-se, antes, com um defeito que carrego comigo desde pequenino: sou demasiado piedoso (como repetidamente me acusa a perspicaz Miss Ao Léu) e saudosista (defeito que partilho com o ilustre autor desse blogue tão mais interessante do que este).

Ora, tenho para mim que um blogue não passa de uma versão moderna de um palimpsesto. Para o leitor que o ignore (e tendo em conta a insensatez do conteúdo das palavras deste escriba, não será de admirar que o leitor médio deste Wordaholic o desconheça), um palimpsesto é uma página manuscrita cujo conteúdo foi apagado (mediante lavagem ou raspagem) e escrito novamente (in Wikipédia). Antes de Guttenberg e da Portucel, o papel era mais raro do que é hoje um jogador decente do Sporting. Por isso, os copistas grafavam os textos e as ilustrações em papiro, e, depois dos textos terem sido lidos por um número suficiente de leitores, raspava-se a camada de tinta e reutilizava-se o papiro para novos textos. E por aí fora. Os escritos antigos tinham, pois, o fado merecido, consoante a respectiva qualidade: ou se perdiam para toda a eternidade ou perduravam na memória dos leitores.

Ora, o que é um blogue senão um palimpsesto digital? Como o espaço visível de um blogue comporta uma quantidade limitada de texto, quanto mais frequentemente se escrever novos posts, mais cedo os anteriores se evaporam. E, ainda que exista um truque chamado arquivo, alguém acredita que o leitor de um blogue deste calibre se dê ao trabalho de o ir catar à procura de alguma pulga, perdão, texto de jeito?

Ora, por muita bosta que seja cada posta, um tipo afeiçoa-se. As nossas postas são como os nossos filhos, nunca vemos os seus defeitos. Aquela posta inspirada, aquele comentário pertinente, aquela raiva tão expressivamente expressada, aquela piadinha tão singela, tudo irá com os beleléus no prazo máximo de, digamos, três semanas, RIP.

Por isso tenho sido poupadinho, como sugerem os nossos governantes. Tive pena das minhas postas. Mas se, como é provável, achardes toda esta tese uma parvoeira pegada, não vos apoquentais. Seguirei o conselho de Vossa Senhoria e escrevinharei com maior regularidade. E brevemente estas linhas terão tido o destino adequado: a obnubilação.

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9 de novembro de 2007

Reencontros

Finda mais uma jorna de labuta, com um astral filho da puta, descia pela rua ao som de Lou Reed, a caminho da doméstica lide.

Anestesiado por um dia de condenado, pressinto, pelo canto desse olho esgazeado, um perfil familiar no semáforo parado.

Arrependido do meu passo de corrida, não rolo mais pela cidade a toda a brida, pois, se à nuca arriba o arrepio, estougo o passo e aquele corpo reaprecio.

Não que fosse uma estampa de tão bonita, mas portava uma linha assaz catita. Era como uma velha amante, fazia-me sentir o Diogo Infante, com ela fui ao reino da Dinamarca e aportei à pátria do Petrarca.

Ó fiel companheira, Inch'Allah que te revi, minha Laguna prazenteira, de teu nome 83-15-HI.




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7 de novembro de 2007

Retalhos da vida de um consultor



Eles de gel, tez de cal, camisa amarela e gravatuncha verde, sapato de borracha, que é mais confortável, discutem com o calor dos grandes debates de quantos milissegundos é feita a transmissão de dados por satélite e as suas vantagens e inconvenientes face à tradicional transmissão por cabo. Elas, colar de crucifixo, túnicas cai-cai e alça do soutien à vista, portadoras de um agradável odor a perfume lavanda, descrevem cada pormenor da última visita ao pediatra que examinou o génio do seu rebento ou as graçolas que se disseram na última sessão do Por um Casamento de Sonho.

As piadas homofóbicas, conversas sobre a arbitragem nacional, os relatos dos Gatos Fedorentos, em alternância com os desafios que a nossa firma tem de enfrentar num quadro de acrescida concorrência, só superável com o espírito de equipa, combatividade e amor à camisola que nos distingue.

O branding, o client relationship, o targeting, os receivables, a performance, o team playing e o team building, o feedback, o role model e o management.

A moradia na Quinta da Marinha, o Lamborghini e o Rolex para uns, o apartamento em Telheiras, o BM e as férias em Punta Cana - "all inclusive", pois claro- para outros.

A imaginativa substituição de substantivos por verbos no infinitivo - "o que é importante é o gostarmos daquilo que fazemos, é o estarmos de bem com a vida e com nós mesmos". A proliferação dos inhos e das inhas - "Agora há uns separadorzinhos que até dá gosto arquivar, fica tudo arrumadinho".

A gaja que masca ruidosamente a pastilha e o tipo que acaba metade das banalidades que profere com a interjeição expressivo-interrogativa "..., ?".

E os e-mails em cadeia. As frases sempre terminadas com inúmeros pontos de exclamação. As apresentações (prazer em conhecer) em Power Point com letrinhas muito coloridas que vão saltitando pelo ecrã, acompanhadas daquela musiquinha bonitinha tão apta para limpar o cuzinho. Os e-mails a pedir sangue, a requerer pedaços da nossa medula, se alguém viu a criança desaparecida, pobres dos pais, imagine que isso lhe acontecia a si. As correntes de solidariedade com as vítimas do Darfur, do Tibete, da Birmânia ("Olha que não é Birmânia, é Myanmar", ai mas a geral cultura do fulano), a Maddie, as fotos do trágico acidente rodoviário na A23, o vídeo do Cristiano Ronaldo, a localização dos radares na A1.

Procura-se bazuca, com munições. Providenciam-se alvíssaras.

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30 de outubro de 2007

O último perfume do Rei Narigão

Epílogo

Soaram as trompas pelo reino, anunciando o torneio. Foi comunicado que tomaria a mão da Princesa Hortênsia o súbdito que desse a saborear ao Rei um odor que lhe fosse totalmente novo. Teriam os pretendentes duas semanas para obter esse perfume desconhecido.

Sabendo dos dotes do rei malvado, compareceram ao torneio apenas três candidatos.

O primeiro usava o nome de Cavaleiro Ardente. Era forte e audaz mas bruto como as casas.

O segundo, de sua graça João Sabichão, era astuto e estudioso, um rato de biblioteca, e feio como uma raposa velha.

O terceiro era formoso, bem disposto e bom compincha, ainda que os seus amigos lhe apontassem o defeito da preguiça. Chamava-se Margarido e Hortênsia estava por ele caída de amores.

O Cavaleiro Ardente pegou no seu cavalo reluzente e zarpou a toda a brida para o Reino das Trevas.

João Sabichão, mal o Rei lançou o repto, sorriu e voltou, plácido, para a biblioteca.

Já Margarido voltou para o seu quarto, onde durante duas semanas não fez melhor do que ouvir música no seu I-Pod, jogar ao Fifa 2008 na PlayStation e namorar com Hortênsia no Messenger.

As duas semanas passaram num ápice e os três pretendentes compareceram perante o Rei.

O Cavaleiro Ardente tinha os cabelos desgrenhados, a face suja e manchada de sangue seco e apresentava queimaduras pelo corpo. Carregava consigo uma geleira, daquelas de piquenique.

Já o João Sabichão trazia na mão direita um copo de cristal, contendo um líquido transparente.

Por sua vez, Margarido apresentou-se, singelo, com a sua velha adaga, enegrecida e corroída pela ferrugem.

O Rei Narigão aproximou-se e o Cavaleiro Ardente abriu a geleira:
“Trago-te o coração de um dragão alado. Apesar de ser um músculo, dizem as lendas que não cheira a carne, mas a enxofre!”
“Pode ser, Cavaleiro Ardente, mas para isso terias que ter posto gelo na tua geleira, grande burro. Isto cheira-me a carne podre. Para o fosso dos jacarés” – e foi para onde a Guarda Real o lançou.

Veio então o João Sabichão. Mostrando ao Rei o copo de cristal, disse-lhe:
“Trago-te as lágrimas de uma viúva recolhidas no funeral. Cheiram a piedade e a desgosto. Aposto que são fragrâncias que desconheces, meu Rei”.
“São lágrimas de crocodilo, isso sim. Foi a viúva que matou o marido, para viver com o amante. Sei-o pelo cheiro, tresanda a luxúria e traição. Para o fosso!”. E a Guarda Real deu mais comida aos jacarés.

Restava apenas Margarido. Aproximando-se do Rei, pediu que este cheirasse o seu velho punhal. Não sentindo outra coisa que não o cheiro a metal enferrujado, Margarido insistiu para que Rei que se aproximasse ainda mais.

Apanhando-o desprevenido, Margarido desenhou com o traço da velha mas afiada lâmina um corte preciso e cirúrgico no pescoço do Rei. Jorrava sangue da jugular.

A Guarda Real pegou em Margarido e já o levava para fora do castelo, preparando-se para lançá-lo aos jacarés, quando o Rei, num último estertor, e fazendo um sorriso de prazer, exclamou:

“Esperem, não o levem. Margarido venceu. Sinto um perfume novo.




É o perfume da minha Morte!”

Margarido desposou Hortênsia, foi coroado como Rei Margarido e viveram felizes para sempre.

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26 de outubro de 2007

O último perfume do Rei Narigão

(Capítulo II)

Esse talento trazia-lhe, no entanto, não poucos problemas. Num reino em que as represas estavam descuidadas, porque o rei não se preocupava com a sede dos seus súbditos, poucos praticavam os hábitos higiénicos mínimos, o que era desagradável para toda a gente, mas ainda mais para as narinas sensíveis do déspota.

Pior ainda, sabia quase sempre o que os outros sentiam. Se, apesar das vénias, o detestavam, cheirava-lhe a urtiga. Se lhe pediam esmola, o odor era a cobre. Se um bobo lhe contava uma anedota, sabia antecipadamente se a piada era de salão, caso em que do bobo exalava um cheiro a chá Earl Grey, ou ordinária, caso em que o comediante tresandava a pimiento padrón. Pelo que já nem uma anedota fazia o rei esboçar um sorriso. Ora, se tão apurado sentido olfactivo lhe era útil para o exercício das suas reais funções, não lhe restava nenhum mistério na natureza humana com que o rei pudesse espantar-se. O rei sentia, pois, um tédio imenso.

Só a princesa, de seu nome Hortênsia, persistia em surpreendê-lo.

Houve um dia, mal tinha acabado o Inverno, que Hortênsia o visitou de manhã nos seus aposentos, estava o rei ainda vestido no seu real pijama de seda perfumada a incenso.

“Querida filha, que pivete é este que sinto no ar? Alguma coisa te preocupa?”

“Senhor meu pai, é a Primavera.”

“E o que tem a Primavera que possa apoquentar a minha linda princesa?”

“Senhor meu pai, não sou mais uma criança, as flores desabrocham e eu preciso de um príncipe. Desejo desposar-me.”

“Filha, queres dar-me, portanto, um herdeiro, alguém que prossiga a minha missão neste reino. Não seja por isso, não julgues que não tenho pensado no futuro, tenho muitos pretendentes que dariam tudo para ter a tua mão.”

“Mas paizinho, eu já tenho um príncipe que amo, é tão bonito e tão gentil.”

“Nem penses nisso, vou organizar um torneio e o vencedor terá a tua mão. Há uma tradição que tem de se cumprir.”

Temerosa, a Princesa Hortênsia chorou lágrimas de alecrim e hortelã.

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24 de outubro de 2007

Da hedionda redonda


É Futebol e é Fado.

Faltou só um bocadinho, Vasquinho. Foi prestes, João.

Não fora o santinho do Tiago. E não fora o pobre do Abel, que, finda a pleita, qual cachorrinho escorraçado, em pública penitência perante os fiéis, gania: "Caim, Caim, Caim".

Mas é preciso ter fé. Certamente que com Esforço, Dedicação e, acima de tudo, uma imensa Devoção, atingirão a celestial Glória.

Nem que para tanto, depois das pias procissões a Belém, Roma e Fátima, o Mister Paulo, de cognome "o Bento", tenha de conduzir os seus acólitos, em romaria, a Jerusalém, a Cidade Santa.

Ámen.

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23 de outubro de 2007

O último perfume do Rei Narigão

Era uma vez um rei viúvo, velho e malvado que tinha uma única filha, jovem e bela.

O rei tinha um nome comprido, nobre, grandioso, daqueles de que só os reis podem usufruir...

Mas todos os súbditos simplesmente o chamavam de Rei Narigão, pois ele tinha um dom: conseguia distinguir com precisão todos os odores, todos os perfumes, todos os aromas.

Era ele ainda muito jovem, e já cometia a ousadia de desafiar os sábios de entre os sábios do Reino da Organdilândia, ao mesmo passo que escarnecia dos famosos perfumistas do Principado da Lavandilândia.

Tão altiva e imprudente atitude valeu-lhe as críticas veladas dos conselheiros do reino, mais experientes e prudentes do que o jovem rei, mas isso não o apoquentou. Não houve cheiro que se lhe escapasse, e, ao desafio, acabou por acrescentar aqueles reinos ao seu novo Império.

Com perseverança e treino, o rei foi aprimorando a sua técnica. E a lenda foi crescendo. Dizia o seu povo que, com o passar dos anos, ele conseguia até sentir o odor das coisas sem odor: como os pensamentos ou os sentimentos.

Isso fazia dele um rei muito poderoso. Sabia sempre quando lhe estavam a mentir, pois, quando o tentavam enganar, sentia um cheirete a vinarrascão (que o rei explicava, aos poucos súbditos a quem dava confiança, ser como que um aroma a vinagre barato de vinho carrascão).

E, sempre que sentia esse cheiro, mandava o mentiroso para o fosso dos jacarés, que eram os seus animais de estimação predilectos. Não tanto pelo seus olhos pintados de âmbar, perfil esguio ou a textura de bicho escorregadio, mas mais pelo seu odor a leite azedo.

(continua, se der na gana ao insane escriba)

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Elementar, meu caro J. Watson

Como bem sabe quem tenha de lidar com um em casa, é certo que os homens são menos inteligentes do que as mulheres.

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18 de outubro de 2007

O abominável homem das neves

"Todos os pólos culturais da sociedade portuguesa estão a dar sinal de alarme. Ataca-se a família como obsoleta e ridícula. A escola passou de veículo ideológico a burocracia rotineira e reivindicante. Artes e espectáculos são minadas pelo clientelismo e tolice. Tenta-se controlar a comunicação social, a qual se rende ao populismo boçal. A perseguição surda à Igreja já levou a uma queixa inusitada da Conferência Episcopal.Assim, mesmo que as reformas funcionem e a economia melhore, o País permanece desmoralizado. Do que Portugal precisa, antes de tudo, não é crescimento e investimento, tecnologia e emprego. Precisa de algo mais precioso: uma ideia, um projecto, um objectivo que empolgue e convença. Algo em que acreditar. Portugal até tem progresso. Precisa de fé."

Citação do DN, do César, porque a César o que é de César. Embora presuma que o ilustre economista não aprecie particularmente o aforismo. Certamente que ele me perdoaria a presunção, nem que seja porque ele há outro aforismo que liga presunção a água benta.

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Retalhos da vida de um consultor



Depois de, à hora previamente marcada, ter apanhado uma seca de duas horas para ser atendido pelos mais broncos funcionários, totalmente incapazes de reagir a um estímulo tão singelo como uma pergunta (o melhor que os seres conseguiram produzir foi "olhe, se não concorda, pode sempre reclamar por escrito"), tudo para que os ditos persistissem em sacar uns cobres valentes a uns pobres coitados, concedo, sem dificuldade, na tirada filosófica mais usada pelo JNP (e pela Margarida Rebelo Pinto, há que dizer com toda a frontalidade) : não há coincidências. Por alguma razão as iniciais de Segurança Social são SS.

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16 de outubro de 2007

Era uma vez uma família

Era uma vez um filho de um senhor tão pungentemente católico. O filho pediu dinheiro e viu perdoados os juros. Também era só o que faltava, o pai cobrar juros pelo dinheiro que empresta ao filho, ainda por cima tão católico, se isso se soubesse, os outros amigos também tão pungentemente católicos quiçá lhe chamassem agiota. Só que o pai diz que não sabia nada dessa mesada. O filho diz que ser filho daquele pai só lhe trouxe problemas. Financeiros, deduz-se. Pois, é o que dá não ter ganho o totoloto nem ser filho de um pai rico. Moral da história: para a próxima vez, o filho devia pedir dinheiro a um banco.

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11 de outubro de 2007

Um modesto verdadeiro é um falso pretensioso

Por isso, perdoa-me, mas escrevo mesmo o que me dizes: sim, hoje será o primeiro passo do resto da tua vida.
Post-templatum: A música da Suzanne Vega era "Book of Dreams" ou "Dream of Books"?

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Armado em Cupido

Para o meu querido casal de arquitectos: M.V., alguma vez disseste à T. que amavas o seu pé direito?

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8 de outubro de 2007

Ainda das relevantes diferenças entre a-socialidade e inocência

Ursa menor

Depois da tempestade provocada por uma intensa cavaqueira numa casa perdida no meio de nada (uma terra intrinsicamente "austrolopiteca" ou "paleolítica", em que um dos temas de debate era precisamente se existiria lugar mais marcadamente primitivo no território nacional, ao jeito do sketch de Monty Pithons sobre as miseráveis condições habitacionais do operariado britânico na revolução industrial ("eu cá vivo numa casa do tamanho de um baú", "mas eu, pá, vivo numa caixa de fósforos")), esgotados os convivas, vem a calmaria.

Um dos anfitriões, momentos antes tão participativo na tertúlia, desloca-se para o terraço, ao relento na noite fria (gélida, sublinhe-se), embrulhado em sacos-cama. Aqui o hóspede junta-se-lhe e faz conversa, ora mais amena.
Que lindo é o espectáculo da noite do campo, aqui está-se de volta às origens, às raízes de infância em que tudo era uma descoberta, olha, ele é cassiopeia, ele é as três irmãs, não consigo vislumbrar a ursa menor e a estrela polar.
E o anfitrião profere qualquer coisa do tipo: sim, o céu está bonito, mas eu gosto mesmo é deste ar frio, faz-me dormir melhor.
No dia seguinte o rapaz tomava chá de cebola, porque lhe tinham dito que fazia bem (embora ele não fizesse ideia a quê) e chá de limão, por estar nitidamente engripado e também não sabia porquê.

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Das relevantes diferenças entre um anti-social e um a-social


Tal como o amoral não tem noção de moralidade, e desse pecado não tem culpa - por contraste com o imoral rebelde - não é fantasioso, em tese, imaginar-se um verdadeiro joker, desses danadinhos para a brincadeira, que proponha receber amigos em casa, desde que seja previamente estipulado um horário, de chegada e de saída. Tal representa, dir-se-á, um estado de inocência pura (no que respeita às mais singelas regras de socialidade mundana).

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4 de outubro de 2007

E hoje há...


Ante-estreia deste filme, com a presença do próprio Paul Auster. Já em Abril desesperava, a coisa chega com cinco meses de atraso. Mas, como diz o JNP, não há coincidências, e ser hoje vem mesmo a calhar, é ou não é, Uma?
Post-templatum: Thanx to yue, Blue.

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Free Burma

Free Burma!
Free-burma.org

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2 de outubro de 2007

Passar dias inteiros a vender a banha da cobra a clientes só podia dar nisto

Este blog, de arquitectura apurada e dinâmica, conjuga a tradição de um template clássico com a vocação de inovação e pro-actividade que fazem parte intrínseca do ADN do seu autor. O blog distingue-se pela concisão dos seus posts, garantia de máxima legibilidade e eficácia. Disponível em três tonalidades, negro clássico, azul ciano e baunilha aveludado, de linhas marcadamente límpidas, é ideal para realçar uma personalidade sensível, porém liberta do peso de dissertações intelectuais estéreis. Encontra-se, no entanto, temporariamente bloqueado por dificuldades de carácter prático, originadas por uma luta sem quartel entre o seu autor e o uso e abuso de um jargão técnico-marketicista, adequado apenas a uma agressiva política de vendas, do qual aquele não consegue, conquanto muito porfie, ver-se livre. Aos escassos, mas muito pacientes, fiéis leitores, o merecido pedido de desculpas, tomando emprestada, uma vez mais carecendo da devida autorização prévia, a expressão de uma cara colega da blogosfera.

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28 de setembro de 2007

Olhá passadeira!


À beira de atravessar a rua, ao meu lado uma filha pergunta à mãe:
"- Mãe, para que servem estas riscas na estrada?
- Querida, estas riscas chamam-se passadeiras e servem para as pessoas atravessarem a rua. Aqui os carros andam mais devagar e param para as pessoas passarem.
- Ah... Então porque é que as ruas não são todas às riscas?"
Bom fim de semana.
Post-templatum (dirigido a um público restrito, como, aliás, todo este blogue):
Em precedentes templatae, escrevi que me ensinaram a estar calado e que aprendi a não arrotar posts de pescada. Pois, olhe que não, shôr Ogait, olhe que não, fala-me a consciência. Nunca mais faço trocadilhos infantis sobre pedras e rolinhos e... coisos.

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27 de setembro de 2007

As iludências aparudem

Diz o chefe do eixo do mal que lá não há invertidos.
Olhe que é capaz de haver, seu ai-a-tola.
Só que usam burka.

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26 de setembro de 2007

Vozes e Ecos


Sim, o rapaz da esquerda, tão mimoso e bem conservado, resguarda-se por vezes cauteloso na oitava abaixo e no registo jazístico. O rapaz da direita, esse, já usa o lábio inferior à Churchill, enquanto sola (mas que lá que sola bem o rapaz, ai lá isso sola) para descanso do rapaz da esquerda, quiçá uns minutos mais do que, em condições normais, uma certa audiência toleraria. Sim, o rapaz do meio... bem, quanto ao rapaz do meio, será talvez bem avisado não tecer qualquer comentário, não vá esta posta dar azo a tiradas humorísticas de um fino calibre, a manter no estreito círculo de quem me acompanhou ao evento. É que a prosa, uma vez escrita, pode dar em cardo, e se é certo que post que não mata, engorda, de quando em vez, dizem, ele há que pensar no que escrevemos e partilhamos.

Adiante, que já se faz tarde.

Ouvimos, a caminho, bem instalados num carro muito simpático, que até parecia que ria, a mesma música, ad nauseum. Lembrámos lanches de omoletes, de fiambre uma, de queijo outra, regadas a zeniatta mondata. Recordámos a nossa breve carreira de actores, todos secundários (e não é que o concerto maliciosamente abriu ao som do "Get Up, Stand Up"?). Rememorámos as cantorias no metro de Paris (ó Collina, o que estavas tu a fazer em casa, pá?). Levemente pedrados pelos rolinhos feitos no tal simpático carro, tivemos visões de duendes. Debatemos a blogosfera. Dançámos. Dissemos adeus aos bifes industriais e jurámos a partir daqui só cear em bares que se assumam como de outro tempo.

E, nem parece verdade, vimos mesmo os Police. E as suas vozes ainda ecoam na cabeça, trazendo à memória as coisas que eles nos dizem.

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20 de setembro de 2007

Moral da história

Do dia de hoje retiro duas novas lições de vida:
1. Não mais falar de boca cheia;
2. Não mais arrotar posts de pescada.

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Mentes brilhantes

Já que estou numa maré de auto-punição, queria apresentar o meu modesto pedido de desculpa ao nosso Governo pelo infantil e despropositado post de 12 de Setembro último, parvamente intitulado "Diálogo era com o outro". É que li hoje no Público que o governo chinês se prepara para reduzir substancialmente os apoios ao governo do Zimbabué. Como sempre, a real politik tem os seus efeitos positivos, que o comum dos mortais está longe de vislumbrar. O governo não recebe o Dalai Lama (mas ele há sempre o Presidente da Assembleia para evitar o vexame total - e só a paciência infinita de um Dalai Lama para aguentar mais de dez minutos de conversa com o batráquio monocórdico do Jaime Gama) e o Mugabe fica sem dinheiro para a passagem de avião para Lisboa.

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Ogait Lagaffe


Isto de me arvorar por vezes (poucas, garanto, mas ainda assim em excesso) em bófia de costumes dá nisto.
Dirijo-me meio ensonado ao balcão de um mui tipicamente lisboeta estabelecimento pasteleiro para a minha dose matinal de cafeína, acompanhada do pastelito de nata de duvidosa qualidade, para disfarçar.
Eis senão quando, entre uma mastigadela e um sorvo, mesmo ao meu lado direito e a uns bons 80 centímetros abaixo do meu fraco ouvido, uma delicada voz feminina pede ao bigodudo empregado:
"Queria uma bica e um Marlboro Lights, por favor".
Um pouco perturbado com tão precoce queda para o veneno, não resisto e, rodando o meu pescoço para as 15 horas e os meus olhos noventa graus para baixo, profiro :
"Não achas que ainda és muito nova para beber café?" (planeiei começar paternalmente pelo mal menor, à guiza de quebrar o gelo e passar depois para o outro vício).
A resposta: "E ao senhor, não lhe ensinaram a não falar com a boca cheia?"
Pois, até que me ensinaram. E até me ensinaram a estar calado. A miúda era baixinha, é certo, mas tinha 40 anos, au moins. E o empregado aparentemente não apreciou ter de passar o paninho amarelo pelo balcão, de molde a remover o café involuntariamente ejectado da minha boca nano-segundos depois da resposta da menina (perdão, da senhora).

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18 de setembro de 2007

Dialogo luso italiano


Christian, mi dispiace. Ma Manuel Rui Costa, dimenticati di questa maglia e segnalo per noi, la bella curva.

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Trocadilho mimoso (e bastante piroso)

Amoriga, não fico corado.
Mas fazes da minha alma um terreno mimado.

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12 de setembro de 2007

Diálogo era com o outro

O Dalai Lama é para os mariquinhas, nós recebemos é o tipo do Zimbabué.

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Mais uma do Careca levado da b(r)eca

Não é que o nosso ilustre magistrado tenha absoluta confiança na Justiça portuguesa e ponha as mãos no fogo pela competência profissional dos seus pares (o contrário seria pecado de imodéstia, que, quando em excesso, é bem sabido, cai mal). A propósito dos tãos propalados fenómenos da lentidão e mediatização da Justiça, comenta o nosso ilustre magistrado o caso Casa Pia (antecipado pedido de desculpa ao supra mencionado por eventuais erros de transcrição):
"Ainda falta ouvir para aí umas duzentas testemunhas. Fosse eu o juiz do processo e, com o aparato mediático do caso Maddie, declararia a inutilidade superveniente da lide."
Não podia estar mais de acordo.

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O Careca levado da b(r)eca

Sob o pretexto de um aniversário, almoço com amigos de longa data. São uma verdadeira terapia, estas tertúlias.

Um de nós, cuja identidade à cautela não revelarei, não vá eu sofrer represálias, pois que a justiça é cega e não olha aos afectos, é personificação de um órgão de soberania da república.

Chegou longe, portanto, o que de todo em todo é causa de espanto para qualquer dos outros, dadas as suas qualidades intelectuais e académicas, reconhecida e consensualmente superiores às dos outros mortais convivas (sem mencionar as qualidades humanas, ibastas, mas que não vêm agora a propósito).

A ilustre carreira da magistratura que esse nosso amigo prosseguiu com tanto sucesso foi também o resultado de uma escolha em tudo adequada a alguns traços da sua personalidade. O homem tem um profundo espírito inquisitivo e nunca se fia nas afirmações de quem quer que seja, mesmo dos seus mais próximos. Exemplo.

A malta discutia as vantagens de pertencer a algumas agremiações, cuja titularidade implicaria o direito a descontos em gasolineiras e afins. O aniversariante diz que, por desleixo, não retirava qualquer proveito dos cartões de associado e que a única vez que tinha usado de descontos desse tipo teria sido com o vetusto cartão jovem.

Eis que o magistrado, usando do seu fino e rigoroso espírito cartesiano, questiona, com um sorriso malicioso nos lábios:
"Mas tu usavas o cartão jovem? Usavas em quê o cartão jovem?"
Ao que o outro, responde, não sem que transparecesse um ligeiro e irracional temor com a acutilância da questão:
"Sei lá, por exemplo, nos transportes".
"Mas quais transportes, alguma vez fizeste Inter-Rail, pá?"
"Não, isso não fiz. Mas usava nos comboios, de qualquer modo."
"O quê, usavas em que comboios, pá, daqui para Sintra e depois davam-te boleia para as Maçãs, não? Usavas lá tu cartão jovem, pá".
Cansado e arrasado, o meu amigo mais humilde deu por terminado o debate e admite nunca ter usado tal coisa.
Se a coisa é assim entre amigos, o que será nos tribunais. O casal McCann bem fez em pirar-se para a terrinha, não fora a Roda da Fortuna apontar o nosso amigo para vingar a Justiça Nacional das calúnias dos tablóides anglófonos.

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10 de setembro de 2007

Um lindo trocadalho que se me irrompeu pela cabeça adentro

Hoje um colega meu convida-me para almoçar. Mas pergunta-me se pode levar connosoco um tipo mais chato do que a Bélgica. Eu disse-lhe que ficava para outro dia, que tinha de ir a casa.

"Epá, embora lá, que o gajo, desde que a namorada o deixou, anda com a auto-estima em baixo."

Fosga-se, com esta é que fui mesmo a casa. Se ele tem problemas de auto-estima, o tipo que vá lavar o carro. Não me estraguem é o almocinho.

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Post-Templatum II



Falha minha, caro .

"Só bebe café Tenco quem é do país do flamenco."

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7 de setembro de 2007

Retalhos da vida de um consultor

Dasse, estava a ver que nunca mais chegavam as seis horas da tarde. Que é como quem diz, que nunca mais era sábado. Bom fim de semana.

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Mundial de rugby

O Grande Herói Nacional Tomaz Morais, o lusitano indómito que finalmente colocou o estandarte nacional no mapa do râguebi mundial, faz para o "Público" a apreciação individual de cada um dos atletas que defenderão as cores da pátria. Fiquei intrigado com o teor de uma delas, que me abstenho de comentar:
"David Mateus (ponta): "Um dos melhores penetradores nas áreas adversárias. Tem que ser mais agressivo a defender""

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Retalhos da vida de um consultor

Ao contrário do costume, esta não está a ser uma sexta-feira particularmente exigente do ponto de vista laboral. Ainda bem, pois que, como de costume, não me apetece fazer ponta de um corno (há-de chegar o dia em que faça um post sobre a expressão "não fazer ponta de um corno", mas hoje não me apetece). Mesmo se fosse mais uma sexta-feira exigente do ponto de vista profissional, teria de chamar o meu haltere-ego para meter as mãos à labuta. O problema é que o gajo anda assim como que para que o pesado, o haltere-ego.

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Retalhos da vida de um consultor

Hoje um gajo irritante, a meio de uma acesa discussão sobre um assunto de escassa relevância, disse-me: "Epá, não sejas teimoso, que não há verdades absolutas". Se o gajo irritante não fosse o meu chefe, teria tido tomates para responder que afirmar que não há verdades absolutas é necessariamente ter a pretensão de que há uma verdade absoluta - a da inexistência de uma verdade absoluta, não vá não ter sido absolutamente claro.

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Post-templatum

"Beba Torrié, ca ganda burrié"

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Tenham cuidado, muito cuidado!


A todos os que não têm de aturar a estopada de ler jornais económicos, e em especial ao Zé e ao Diogo, chamo a atenção para a seguinte notícia, fresquinha:
"Grupo José Maria Vieira alarga marca Torrié".
Atenção, muita atenção, que o supra mencionado grupo económico almeja estender as suas garras muito para além da Taprobana, perdão, da Zambujeira. Esta coisa pode passar a ser vendida como se tratasse de uma vulgar bica em qualquer café de Lisboa. Horror dos horrores, até já a vendem embalada, passando por café, nos supermercados da capital - onde estás tu ASAE, ainda na praia atrás das bolas de berlim?
Fiquei também a saber que o mencionado grupo económico comercializa ainda o néctar Gatão. Tudo tem a ver com tudo e anda à roda do mesmo.

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4 de setembro de 2007

Assim falou Zaratustra

Hoje aprendi um dos mandamentos do zoroastrismo: "Não abusarás da generosidade do teu próximo. A amizade não é pastilha elástica."

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3 de setembro de 2007

Uma, Uma, Uma...

Já enjoa, mas obrigado outra vez, Mónica. Bem sei que esta não era para mim, mas dá-me muito jeitinho.

Afinal nem tudo está na net. Almejava o vídeo do anúncio, fico-me pela vetusta memória.

"Com capota, sem capota, ele é jipe, é camião
Citröen Mehari!
Dá boleia, alegria, com mais imaginação,
Mehari, Citröen!"

A propos, o Diário de Lisboa não contribuiu em nada para o meu pragmatismo cínico, mas o meu pai enviou-me alegremente para um périplo pelo Leste Europeu nos idos de 1988, o que me serviu de definitivo antídoto para qualquer utopia de politburo à moda tuga.

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Jameson atravêssando o Atlântxicô

Brigado, Mônica, a CARIOCA bem-humorada. Valeu. Tem carioca mal-humorada? Sabia não.
Fica prometido o Jameson, on the rocks, para Setembro. Ou uma caipiroska. Pura lima. Ou maculada au maracujá, esticando a corda.

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31 de agosto de 2007

VPV, esse monstro das letras portuguesas

Por influência familiar, ganhei o hábito, melhor dizendo, o vício, da leitura diária de vários jornais. Quando petiz, a chegada a casa do meu progenitor era naturalmente aguardada com expectativa. Uma não insignificante parcela desse ansiado prazer devia-se aos exemplares de jornais que ele trazia consigo e que eu e o meu irmão disputavámos com algazarra.

Carinhosamente, e não sem um indisfarçado orgulho paternal, entregava-nos, pelo menos, o "Diário de Notícias" (antes de o terem transformado numa obscena imitação do "Correio da Manhã") e o "Diário de Lisboa" (antes de a demografia ter acabado com o marxismo em Portugal e, com ele arrastado para a falência o periódico). O pasquim "A Bola" sempre ficou por minha conta e o "Tintin" por conta do meu mano.

As sextas feiras traziam ainda maior expectativa, porque vinha também o "Jornal" (antes de o terem transformado na colorida "Visão"), o "Sete" e o "Jornal de Letras" (antes de eu me ter transformado no grunho inculto que sou hoje).

Veio, muito mais tarde, o "Público" (antes de uma remodelação gráfica o ter tornado em mais "um" jornal). Gostava, em especial, da rotina diária de ler o Calvin & Hobbes na última página, em diálogo contrastante com as crónicas do EPC. Se os primeiros andam perdidos no meio do jornal, infelizmente do segundo não restará senão a memória.

Hoje não há jornal nenhum que me dê verdadeiro prazer, com a excepção do "Público" de sexta-feira. Para além do Y, gosto em especial das crónicas do Vasco Pulido Valente. O homem, presumo que para seu azedo desgosto, nunca chegará a disputar qualquer putativo troféu de jornalismo com o EPC (nem sequer quando este, exagerando o seu galicismo obscuro, se tornava totalmente incompreensível para tipos apenas curiosos). Mas, quanto a mim, consegue ser tão ou mais divertido do que o Calvin & Hobbes. Ele há melhor maneira de começar um fim de semana do que com uma tirada deste calibre?

"Fátima fica ao pé do Entrocamento, na altura o nó de toda a rede ferroviária portuguesa. Como a linha de 1866 "fez" Lourdes, o Entroncamento "fez" Fátima. Se os pastorinhos vivessem em Bragança, nunca se teria ouvido falar deles. Com o tempo, claro, o carro e o autocarro substituíram o comboio e o Entroncamento deixou de contar. Infelizmente, o problema é agora a "internacionalização de Fátima e essa "internacionalização" requer um aeroporto. O Vaticano fundou uma companhia low cost para o "turismo religioso", inaugurada esta semana com um voo Roma-Lourdes. Se o Estado português não intervier (pagando um aeroporto, evidentemente), Fátima está em risco de se tornar um "destino" secundário e de perder 150.000 peregrinos por ano. Resta saber se o Estado vai ou não subsidiar a Igreja. Com o nosso dinheiro."

Ofereceria, de bom grado, como sinal de reconhecimento por todos os momentos de boa disposição que aquela grada figura das letras portuguesas me tem proporcionado, uma t-shirt que possuo e que reproduz uma frase genial do grande Vinicius de Moraes: "O Whisky é o melhor amigo do homem: o cão engarrafado". Estou certo que o VPV a usaria com todo o gosto.

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29 de agosto de 2007

Leva-nos ao colo, miúdo

Procura a sombra, Maestro, confunde-te nela, qual folha morta, imóvel, afaga a bola, levanta os olhos e açoita o adversário com o passe imprevisto, o golpe sem misericórdia.

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Ao espelho

Ele há mana mais linda do que a minha? Hmm? Hmmmmmm?

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27 de agosto de 2007

É a geografia, estúpido!


"Querida, teremos sempre Fernão Ferro."
Perdão, Porto Brandão.
Um fulano arma-se em romântico engraçadinho e, com uma singela piadinha deste calibre, elas deixam, em nano-segundos, de ver como que um Ethan Hawke que os deuses conseguiram por artes mágicas aperfeiçoar e passam a ver (uma pitada de ternura e outra de condescendência) como que um tuga encantadoramente desastrado.

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24 de agosto de 2007

Lloyd Cole aonde?

Rumo à feira de Grândola, essa morena, vou a um concerto deste senhor, por entre carroceis, pipocas e bifanas no pão. Para completar o ramalhete, desloco-me num vetusto comboio da CP, mochila ao ombro. Que tenham um fim de semana tão divertido como o meu.

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21 de agosto de 2007

Profissionalismo

Ultimamente tenho chegado muito tarde ao escritório. Para compensar, tenho saído sempre muito cedo.

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20 de agosto de 2007

Afectos

Comentando a visita à colecção Berardo, um amigo meu, chocado com a coisa, declara exaltado: "Epá, uns paralelipípedos alinhados em formação de quadrado é arte? Porra, meus queridos Van Gogh, Gauguin, Picasso, no limite até o Dali, que já é um bocado esquisito para o meu gosto. Se o tipo gosta de torrar dinheiro, antes comprasse três jogadores decentes para o Benfica!".

Mais tarde, depois de me terem apaparicado com um divino e tão tuga arroz de marisco, ele e a sua mais-que-tudo obsequiam-me com uma visita ao meu modesto lar. Perguntando esta se o sino da igreja próxima me perturbava o sono, eis que ele, voz colocada e tom galante , uma mão no peito e a outra erguendo-se para o céu, declama:

"Ó sino da minha aldeia
Dolente na tarde calma
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma

E é tão lento o teu soar
Tão como triste da vida

E o resto já não sei".

É gratificante ter amigos assim, com convicções artísticas tão seguras. E é um privilégio ainda maior ter dado o pretexto para mais um momento de flirt à moda antiga.

É do Pessoa, pois. E o poema continua assim, caro JNP, que a net, essa preciosa muleta, não me deixa fazer fraca figura:

"Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho
Soas-me a alma distante

A cada passada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto."

Se musicasses isto, tínhamos mesmo homem.

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14 de agosto de 2007

"Adoro o riso das crianças dos outros"

Dizia o mestre Reininho e, como suponho que a todos aconteça com os ídolos da adolescência, eu bebia-lhe as frases, e esta em particular. Esta postura irreverente manteve-se até ter começado a conviver com as crianças, de carne e osso, dos meus próximos. Quanto mais os acompanho, mais confirmo a sagacidade de uma frase, de outro ídolo, este de sempre, que sorrateiramente se me foi instalando :
"I am not young enough to know everything". Oscar Wilde.
É das poucas coisas de que estou certo.

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10 de agosto de 2007

Bom fim de semana





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Retalhos da vida de um consultor

Chegado ao escritório e cumprido o ritual diário pré-laboral (duas bicas e dois cigarros acompanhados da leitura transversal e desatenta do Diário Económico, são os ossos do ofício), é com espírito positivo que abro o outlook na expectativa que o dia não me reserve uma daquelas tarefas urgentes que me fazem o favor de aparecer sempre a uma sexta-feira.

O primeiro e-mail data de hoje, sexta-feira, e vem de Houston, Texas. Reza, no essencial, o seguinte:

"Tiago, we spoke this morning about (...). I tried to call you minutes ago but you didn't answer. I must say that I do not understand this unprofessional behaviour. Call me ASAP."

Resta acrescentar que esta preciosidade fugiu do outbox do meu colega cóboi, que o outlook não me deixa mentir, às 2.45 AM, GMT.

A minha resposta, enviada às 11 AM, GMT:

"Jack, I am so sorry I did not take your call. However, I tried to call you back minutes ago and you did not answer mine. I hope you had a good night sleep, as I was having when of your calls. The moment you return from your morning coffee, please feel free to get in touch. Please note that our lunch time is from 1 pm to 2 pm, Lisbon, Portugal time (not to be mistaken with Lisbon, Connecticut). That must be 7 am to 8 am, Texas time."

O dia promete.

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9 de agosto de 2007

In a good mood

23 razões:

um Arroz-doce feito com ovos da quinta;
a Blue e a sua (nossa) segunda adolescência;
as Conversas pela noite dentro;
o Doce de figo e o Doce de castanhas;
o Eça;
a(s) Família(s);
o Gato e a Gata;
o "Herman" do lars christensen;
a Inquietação e as Insónias;
o Johnny-be-good e as suas poéticas homenagens;
Lisboa em agosto;
o Manel e o seu abraço;
Nouvelle Vague e a sua áurea;
as Ostras daqui a pouco no ramiro;
Planos de viagem;
até o Queijo (da tosta mista do bar das imagens);
o Reininho com o seu telefonema;
o Sol escondendo-se atrás da colina de São Pedro de Alcântara;
o Trabalho em agosto;
a Uma no "kill bill";
o Vargas llosa;
o Xi e a sua criatividade;
o Zé nuno e o pretexto da sua loura.

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O Norte em desnorte


"A destruição da vivenda que pertenceu à família de Eça de Queirós, na Granja, foi determinada pelos próprios serviços técnicos da Câmara de Gaia. Após a elaboração de um auto de vistoria ao edifício oitocentista, o proprietário da edificação degradada e devoluta - a sociedade de construtores Jofilhos, Lda. - recebeu uma notificação com data de 27 de Junho de 2007 que propunha a "demolição da edificação em ruínas" no prazo de 30 dias. Com efeito, na manhã de 25 de Julho, a moradia oitocentista na Rua dos Heróis da Pátria, freguesia de Arcozelo, estava reduzida a escombros".
In O PUBLICO, da jornalista Andrea Azevedo Soares.

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6 de agosto de 2007

I apologize





Aos leitores, pela interrupção. Ando por aqui.

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3 de agosto de 2007

Happy ending

Pequena história que um amigo me conta ao jantar. Não sem antes ter frisado que da mesma não se orgulhava particularmente, pelo que vou esconder a respectiva identidade.

Ele e a sua mais que tudo vão certa noite ao Quarteto, cujas sessões, como os habituais frequentadores saberão, não têm lugares marcados.

A mais que tudo compra os bilhetes e passa-os ao seu mais que tudo. O mais que tudo olha para o bilhete e faz-lhe notar, controlando o iminente acesso de fúria, que ela tinha acabado de comprar bilhetes para a sala do lado, onde passava o filme mais reles da história recente do mítico e vetusto cinema lisboeta.

Quem o conheça, há-de ter notado que a entrada de cada um dos pares de salas é comum. Pois o meu amigo tranquilamente entrega o bilhete ao porteiro e faz, passada a barreira, um pequeno desvio para a sessão cinematográfica pretendida. A custo, lá encontra um par de lugares disponíveis, embora não perfeitos, dada a visão um pouco lateral da projecção. Mas servia.

Passados uns minutos, outro casalito entra na sala. Procura lugar, procura lugar, procura lugar e nada. Visivelmente irritado, o sujeito chama o porteiro e este, visivelmente atrapalhado, depois de percorrer a sala com a sua lanterninha, lá acaba por arranjar um banquito de madeira para a senhora, sentado-se o queixoso no degrau. Situação insólita, mas, que diabo, tudo está bem quando acaba bem.

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2 de agosto de 2007

Retalhos da vida de um consultor

A silly season chegou ao escritório.

Espoletada pela banda sonora do saudoso "Dallas", a malta passou-se de vez e cada qual revelou um pouco da sua iTune library mais íntima.

Ele é ver a malta a pôr os portáteis a berrar e tudo a cantar (alguns chefes saudavelmente incluídos). Até agora a playlist foi:
1. Verano Azul;
2. Heidi;
3. Era uma vez o homem;
4. Pipi das meias altas (versão "levanta e vela");
5. Abelha Maia (versão "Calimero");
6. Dartacão.

E, no pares, sigue, sigue.

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31 de julho de 2007

Passa o tempo

Recordando-me de uns longínquos serões de domingo passados em família a ver filmes a preto e branco na RTP 2, acompanhados de umas deliciosas tostas mistas com natas, feitas no forno caseiro, que me compensavam o desmesurado esforço intelectual de tentar compreender a mentalidade sueca nos meus tenros 11-12 anitos, invento como mote de debate para um almoço em família a morte do Ingmar.

Lapidarmente, a minha progenitora declara que o realizador era, afinal, um inútil e deprimido. E acima de tudo uma grande seca.

Menciono a admiração que o Woody Allen sentia pelo Ingmar e ela insiste na recente e repetida afirmação, manifestamente rebelde, de que o Scoop é um dos filmes mais geniais da criatura.

Estive vai não vai para fazer a passagem para o Manuel de Oliveira, mas temi pelo choque que uma desconstrução total dos gostos cinematográficos da minha progenitora me podia provocar.

Temo pela confirmação de que a velhice não passa de um regresso à infância.

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18 de julho de 2007

Packing

Equipamento de mergulho, medicamentos, umas poucas t-shirts, havaianas, escova e pasta de dentes, lâmina de barbear (a usar com parcimónia), máquina fotográfica, passaporte, música, o novo do Skármeta, um Ondjaki, um Águalusa, dois do Sándor Márai. Acho que não me esqueci de nada. Até já. Vou ali ver as barracudas e já venho.

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17 de julho de 2007

Recuerdo, Oeiras, 15 de julho de 2007


"Cerise sur le gateau" de uma noite inesquecível, oferecem-me esta prenda. Saíu do corpo, felizmente alheio, consegui-la.

Eis que, findo o guloso concerto, o nosso adolescente grupo de fãs berrava, esperançoso,
"A lista das músicas, playlist, please, s'il vous plait, les chansons!"
E só um grunho tuga que desmontava o aparato do palco, dando-se-lhe, a ele mesmo, ares de relevância, nos ouvia.

Respondeu, com a paciência e displicência que se deve à pequenada: "Epá, não dá."

Pausa de supresa:
"Vá lá" (para aquecer),
Responde, desconfiada, a turba ansiosa.

"Pá, não dá."

Gélida, a coisa.
Dasse.
Mas um fã não desiste, está disposto a qualquer humilhação (desde que fugaz):
"Passa lá a playlist, pá."
"Não dá, pá. E praquéquequerem isso, pá?!!" (não foi lapso de digitação, o gajo, se não disse "praquéque, ele podria haver dito)
(...) PAUSE (..)
Está escrita à mão...".

Querias o quê, ó bronca imitação de Viriato nado e criado em Citânia de Briteiros, uma lista inscrita em papiro, apondo-se-lhe o carimbo "Bande a part", certificada pelo Instituto da Qualidade?

Valeu-nos (ou valeu-me) o simpático percussionista que compreendeu o pedido
(um gesto vale mais para seres céfalos e muito provavelmente aculturados do que mil palavras em linguagem comum para um um tuga operário com ares de noblesse exige porque monta andaimes para músicos - que não conhece - em vez de acartar tijolo em Fernão Ferro).
E, o percussionista, cortês, ofereceu-nos dois preciosos exemplares deste toalhete de restaurã, um dos quais por milagre me veio a calhar, o qual dito, após devida emolduração, ficará exposto na sala de visitas, para a nata da nata que me queira brindar com a sua visita.

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Bande a part

Fishy, sim, é uma banda de versões. E daí? Celebration! E nunca vi uma comunicação com o público tão à flor da pele.

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14 de julho de 2007

Proparoxitonamente, manifesto-me

"Retrato de Fernando Pessoa", Almada Negreiros.


Do grego "proparoxytónos". Sinónimo de "esdrúxulo". Que também é o meu sentimento, "proparoxítano", logo "ridículo", que em si é um adjectivo esdrúxulo, e os sentimentos esdrúxulos são "ridículos". Mas, como diria o heterónimo da Criatura, "ridículos" são os que nunca tenham tido sentimentos "esdrúxulos." Em paradoxo - do grego παράδοξος - estou numa onda de etimologia helénica - estás para mim o reverso do que o Almada sentia em relação ao Dantas: manifesto o meu "amor" por ti. Pim. Ou a minha "amorizade", como queiras. Pum.

Post confuso, mas o que não mata, engorda, inspirado pelo Manifesto Anti-Dantas, do Almada, pela Carta a Ophelia, do Álvaro, e, last but not at all the least, por ti.

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Expectando

Quinta, magníficos Air. Sexta, noite de festa de empresa, cidade branca aos nossos pés, o Cristo Rei num abraço protegendo-nos as costas, Lisboa inteira à nossa frente oferecendo o nosso deslubramento, 600 almas vestidas de branco dançando non-stop, em delírio uníssono. Ao sétimo dia (uff...) descansarei, num breve regresso ao mundo terreno, expectando no Domingo uma dança serena nuns jardins de Oeiras, acompanhando o ritmo dolente, deliciosamente decadente, dos Nouvelle Vague. E quem lá estiver dirá, "isto é que é vida".

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13 de julho de 2007

Neologismos

A língua é viva, nunca estática. A blogosfera muito contribui para a dinâmica de mudança. Surgem novas palavras ou significados novos de palavras antigas. "Blogue", "guardar mensagens", "postar", ficando-nos pela atmosfera da "rede". Mas ele há outros neologismos que vou descobrindo por aí e que me dizem mais: "Amorizade". Soa bem esta palavra. E é uma palavra ambígua, e eu gosto das palavras ambíguas porque são úteis. Podemos usá-la como convier, correndo o risco de o interlocutor entender o inverso (o que, lá está, também pode dar jeito): ora como uma acentuação expressiva de uma amizade que mexe mais connosco do que outras, ora como freio para um namoro que se pretenda desamarrado. O que conduz a uma outra palavra nova (provida de igual medida de ambiguidade): "namorigo".

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11 de julho de 2007

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HTTP Error 404 - File or directory not found.Internet Information Services (IIS)
Technical Information (for support personnel)
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Microsoft Product Support Services and perform a title search for the words HTTP and 404.
Open IIS Help, which is accessible in IIS Manager (inetmgr), and search for topics titled Web Site Setup, Common Administrative Tasks, and About Custom Error Messages.

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7 de julho de 2007

Last friday fever, Incógnito

O que fazia falta era animar a malta.

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6 de julho de 2007

Não tenho nada para dizer

Mas, quando estou a dormir, o meu blog é muito interessante.

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Pessoas desocupadas

Intrigam-me as pessoas que não têm nada para fazer: hoje uma miúda muito atraente olhou para mim. Como se não bastasse, pediu-me a minha opinião sobre um tema político.

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Retalhos da vida de um consultor

Hoje almocei com vários colegas. Um deles é particularmente chato, e como todos os colegas particularmente chatos, desconhece em absoluto que é particularmente chato. Falava, falava, falava e ninguém o ouvia. Até que lhe saiu um ruidoso e inadvertido peido.

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4 de julho de 2007

12 de Julho

Air. Este não dá para perder.

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Inveja

De quem lá esteve, acompanhando o mano mai novo. Suponho que seja um momento que o petiz recordará por muitos anos. "A minha irmã mais cota é muitáfrente, levou-me aos Bloc Party e até cantava as músicas dos gajos". Young at heart.

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3 de julho de 2007

3 marcas

Acabo de adicionar mais um blog, que expressa as opiniões de um amigo. De longa data. Como não receio o confronto de ideias, cá vai o link. Mas que fique registado que não me responsabilizo pelo respectivo conteúdo... Abraço mouro.

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Gloriosa rosa

Consócios meus, em particular um titular de um blog amigo aqui do lado direito, têm manifestado a sua indignação pela design do equipamento alternativo do Glorioso, recentemente apresentado. Não posso deixar de expressar o meu desacordo. JNP, que diabo, isto pode ser uma mudança para muito melhor. No lugar da horrenda música dos UHF, sempre que a Maria Amélia marque um golo, afagando a sua bandolete, os altifalantes da Luz passarão a tocar em êxtase hinos de muito mais elevada qualidade musical. Tipo YMCA!!!, YMCA!!! Podemos continuar sem ganhar nada, mas sempre é mais divertido.

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29 de junho de 2007

Brasileiro, Deus?

Sem ponta de espanto, porque dali tudo espero, leio hoje no glorioso pasquim "A Bola" que o Vaticano acredita ter havido mão de Deus (não, isto não tem nada a ver com o golo do Maradona) para que o piloto polaco Kubica saísse ileso de um acidente aparatoso ocorrido num qualquer grande prémio de Fórmula 1. Aparentemente, o piloto usava no seu capacete uma inscrição com o nome do Papa João Paulo II e foi chamado ao Vaticano para testemunhar o milagre operado por Karol Wojtila. Ayrton também usava diversos amuletos em homenagem divina. Pelos vistos, o povo brasileiro anda enganado, afinal Deus é polaco.

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27 de junho de 2007

No maravilhoso reino do efémero

Este mundo da blogosfera não pára de me surpreender. Tão depressa uma malagueta escreve, como de repente adquire sobre-vegetarianas capacidades voadoaras e, pffuuuff, abracadabra, some-se. Ela estava por aí, juro. Assinava malagueta, mas foi fogo que ardeu sem se ver (ou quase, só eu é que reparei e não me lembro de ter fumado outra coisa para além dos meus cinquenta e cinco Marlboro Lights diários) .

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26 de junho de 2007

Milagre virtual

Eis que, no meu regresso, descubro, algures neste mundo maravilhoso da blogosfera, que há uma generosa malagueta que escreve. Pois, aqui tudo é possível. Por vezes, calha a malagueta escrever para mim. Nessas ocasiões, é impossível ficar indiferente. À falta de melhor descrição, o efeito é este:




À esquerda, eu, o lingrinhas. À direita, o meu ego, gordo, insuflado, inchado, anafado.

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Pimientos ou malaguetas?

Apesar de termos comido muito e bem, eu e a minha cunhada ficámos um pouco desiludidos com a falta de tempero dos repastos dos nuestros hermanos. Era eu e ela a pôr a mão no saleiro e o meu mano a espremer o limão. Nem se safaram os pimientos padrón. Muy pocos picavan, casi todos no (falta-lhes na comida o que lhes sobra na têmpera). Dei comigo com saudades disto.

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Back in business

A pedido de várias famílias, esqueço os dias a torrar ao sol, a montanha de livros devorados, o arroz negro (embora o do meu amigo aqui do lado seja muito mais saboroso), os calamares, encharcados do limão espremido por esse viciado citrínico do meu irmão, os pimientos padrón, os mergulhos e sus barracudas. E volto ao mundo real e à blogosfera.

Para quem já estava bêbedo de tanto gin tónico ingerido no chill out abaixo, não hesite em servir-se deste frasquinho, por encetar.


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15 de junho de 2007

After-sun

Fim de tarde, chill out.

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Dias...

"... passados a derreter manteiga no umbigo". Roubo descarado de expressao sita aqui do lado direito. Nao é a primeira vez e nao será a última...

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7 de junho de 2007

Les Vacances de Monsieur Hulot

Avec votre permis, vou, como este senhor francês, à minha vidinha. Rest me in peace e um beijo para quem fica.

Jacques Tati, "Les vacances de Mr. Hulot"

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Telediscos

Manifestamente, as boys bands dos anos 80 tinham outro glamour.

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Ne le dis a personne

Não podia ser mais adequado o nome do filme, tendo em conta a irrelevância que mereceu da crítica. Um filme com uma canção como esta só pode ser bom. E é. Ah, Jeff. Não digam a ninguém, mas vão ver. No Quarteto. Scchhh...

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5 de junho de 2007

Trivialidades

Já repararam que as pessoas que não têm carta de condução batem a porta do carro com mais força?

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Mais retalhos

Os documentos de importância vital demonstram a sua vitalidade movendo-se do sítio onde os deixei para outro onde os não consiga encontrar.

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Retalhos da vida de um consultor

Esta coisa do trabalho até poderia ser divertida. Não fosse o detalhe de ter de ser eu a fazê-la.

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4 de junho de 2007

Retalhos da vida de um consultor

Se não fosse o Último Dia do Prazo, não havia trabalho que fosse concluído.

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A friend in need

Bien sûr il y a les guerres d'Irlande
Et les peuplades sans musique
Bien sûr tout ce manque de tendres
Il n'y a plus d'Amérique
Bien sûr l'argent n'a pas d'odeur
Mais pas d'odeur me monte au nez
Bien sûr on marche sur les fleurs
Mais voir un ami pleurer!

Bien sûr il y a nos défaites
Et puis la mort qui est tout au bout
Nos corps inclinent déjà la tête
Étonnés d'être encore debout
Bien sûr les femmes infidèles
Et les oiseaux assassinés
Bien sûr nos coeurs perdent leurs ailes
Mais mais voir un ami pleurer!

Bien sûr ces villes épuisées
Par ces enfants de cinquante ans
Notre impuissance à les aider
Et nos amours qui ont mal aux dents
Bien sûr le temps qui va trop vite
Ces métro remplis de noyés
La vérité qui nous évite
Mais voir un ami pleurer!

Bien sûr nos miroirs sont intègres
Ni le courage d'être juifs
Ni l'élégance d'être nègres
On se croit mèche on n'est que suif
Et tous ces hommes qui sont nos frères
Tellement qu'on n'est plus étonnés
Que par amour ils nous lacèrent
Mais voir un ami pleurer!"

Jacques Brel.

Não chores. Vive.

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Modern times

"O sol entrava pelas janelas como um rio, e era puríssimo, sem a ferrugem triste que por vezes carrega quando alcança o chão. As nuvens cintilavam, aos tufos, desalinhadas, e, no entanto, havia nessa desordem uma tal harmonia que o velho se lembrou dos jardins japoneses. (...) O velho voava de regresso a casa. Não gostava de aviões. Os aviões, é bem certo, reduziram a Terra a uma rede de metro. Tiraram-lhe o mistério e a grandeza. Também não gostava de auto-estradas, nem de pontes, e tão-pouco de telefones. Odiava a Internet. As viagens rápidas, dizia, eram da mesma natureza perversa que o fast-food - o triunfo da barbárie através da tecnologia. Defendia com vigor o regresso da humanidade à lentidão: "Quanto mais corremos menos tempo temos". Nas grandes cidades há uma frase que a cada instante se repete, como um mantra, aqui, ali, por toda a parte - "não tenho tempo não tenho tempo não tenho tempo não tenho tempo não tenho tempo não tenho tempo". Ninguém tem tempo."

José Eduardo Agualusa, "Uma Silhueta Ardendo ao Crepúsculo", in "Catálogo de Sombras".

Foto retirada de blogue amigo descaradamente sem autorização prévia.

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1 de junho de 2007

Paul Auster

Guilt can cause a man to act against in his own best interest, but desire can do that as well, and when guilt and desire are mixed up equally in a man's heart, that man is apt to do strange things. Paul Auster, The Book of Illusions.

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