29 de novembro de 2007

Xe(i)que Russo


Tempos idos, vivia do e para o xadrez.
Facilitaram-lhe a vida: hoje vive no xadrez.


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26 de novembro de 2007

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Na festa de aniversário da velha Pergunta Sincera, último exemplar vivo de uma espécie em vias de extinção, a sala de interrogatórios foi bombardeada por muitas perguntas, embora tantas outras tenham ficado no ar. Entre elas, a própria Pergunta Sincera, que, para surpresa das restantes, não compareceu.

Para quebrar o silêncio, e porque não tinha nada a perder, a Pergunta Redundante chegou-se à frente para fazer um oco e interminável discurso de comenda. Como se não bastasse a verborreia da Pergunta Redundante para distrair as atenções, estavam tantas Perguntas Indiscretas na ocasião que as outras não conseguiram ouvir quase nada do discurso.

Felizmente, uma intrusa, a Resposta Categórica, dando um urro e um murro na mesa, de uma penada calou as irrequietas Perguntas Indiscretas, impondo a solenidade que o ocasião exigia.

Aproveitando-se do momentâneo silêncio, a Pergunta Intrigante insidiosamente sibilou aos ouvidos das suas comadres, as Questões Mais Frequentes:
“Olhem lá, aqui entre nós, vocês nunca desconfiaram da relação entre a Pergunta Sincera e a Pergunta Especulativa?”
“Entre a Pergunta Sincera e essa milionária?”, retorquiram, em tom de virgem arrependida, as Questões Mais Frequentes.

Enojada com a infame insinuação, a Resposta Evasiva deu rapidamente à sola.

Mas com tanta Questão Mais Frequente presente, depressa o boato cresceu e chegou aos ouvidos das Perguntas dos Leitores, que trataram de o fazer chegar à imprensa escrita.

Ainda assim, houve uma minoria que desconfiou do rumor, como a Pergunta Lógica, que quis saber porque carga de água precisaria a Pergunta Especulativa da Pergunta Sincera.

Ao que a Pergunta-que-Traz-Água-no-Bico retorquiu, entre dentes, se a questão fundamental não seria a inversa.

De pergunta em pergunta, lá se foi esquecendo o motivo desta história toda.

Numa última tentativa, tentando colocar os pontos nos ii, a Pergunta Difícil questionou os presentes se sabiam a razão da ausência da última Pergunta Sincera.

Deste modo, uma homenagem falhada transformou-se num feliz evento, pois tinha vindo ao mundo uma recém-nascida. A Pergunta Sem Resposta.

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21 de novembro de 2007

Direito de resposta

A propósito disto, caro João, e como hoje acordei, ó horror dos horrores, vascopulidovalentiano dos pés à cabeça, tenho a dizer o que segue.
Portugal tem dois caminhos possíveis: ou aceita de uma vez por todas os Portugueses tal como eles sempre foram, são e serão, ou lhes move uma acção de despejo.

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19 de novembro de 2007

XL

Quanto mais convivo com crianças, mais acredito que a pergunta certa seria: o que não queres deixar de ser quando fores grande?

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16 de novembro de 2007

Requiem da posta

Pelo MCP, o único leitor que sente falta das alarvidades que aqui são escritas (será mal de emigrante, mas isso com o tempo cura-se, suponho) me penitencio pelo longo interlúdio nestas lides. Garanto-vos que não se trata de preguiça, timidez ou, sequer, falta de inspiração. Preguiçoso serei bastante, mas apenas quando se trate de tarefa com contrapartida monetária. Tímidez é qualidade que não possuo (de muitos cuidados me teria livrado se a tivesse na medida certa). A falta de inspiração é manifesta, mas não me tem impedido de escrevinhar estes disparates que, pese a vossa inteligência, persisteis em ir lendo.

Não, não se trata disso. É mister de outra cousa. A causa da minha recente apatia prende-se, antes, com um defeito que carrego comigo desde pequenino: sou demasiado piedoso (como repetidamente me acusa a perspicaz Miss Ao Léu) e saudosista (defeito que partilho com o ilustre autor desse blogue tão mais interessante do que este).

Ora, tenho para mim que um blogue não passa de uma versão moderna de um palimpsesto. Para o leitor que o ignore (e tendo em conta a insensatez do conteúdo das palavras deste escriba, não será de admirar que o leitor médio deste Wordaholic o desconheça), um palimpsesto é uma página manuscrita cujo conteúdo foi apagado (mediante lavagem ou raspagem) e escrito novamente (in Wikipédia). Antes de Guttenberg e da Portucel, o papel era mais raro do que é hoje um jogador decente do Sporting. Por isso, os copistas grafavam os textos e as ilustrações em papiro, e, depois dos textos terem sido lidos por um número suficiente de leitores, raspava-se a camada de tinta e reutilizava-se o papiro para novos textos. E por aí fora. Os escritos antigos tinham, pois, o fado merecido, consoante a respectiva qualidade: ou se perdiam para toda a eternidade ou perduravam na memória dos leitores.

Ora, o que é um blogue senão um palimpsesto digital? Como o espaço visível de um blogue comporta uma quantidade limitada de texto, quanto mais frequentemente se escrever novos posts, mais cedo os anteriores se evaporam. E, ainda que exista um truque chamado arquivo, alguém acredita que o leitor de um blogue deste calibre se dê ao trabalho de o ir catar à procura de alguma pulga, perdão, texto de jeito?

Ora, por muita bosta que seja cada posta, um tipo afeiçoa-se. As nossas postas são como os nossos filhos, nunca vemos os seus defeitos. Aquela posta inspirada, aquele comentário pertinente, aquela raiva tão expressivamente expressada, aquela piadinha tão singela, tudo irá com os beleléus no prazo máximo de, digamos, três semanas, RIP.

Por isso tenho sido poupadinho, como sugerem os nossos governantes. Tive pena das minhas postas. Mas se, como é provável, achardes toda esta tese uma parvoeira pegada, não vos apoquentais. Seguirei o conselho de Vossa Senhoria e escrevinharei com maior regularidade. E brevemente estas linhas terão tido o destino adequado: a obnubilação.

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9 de novembro de 2007

Reencontros

Finda mais uma jorna de labuta, com um astral filho da puta, descia pela rua ao som de Lou Reed, a caminho da doméstica lide.

Anestesiado por um dia de condenado, pressinto, pelo canto desse olho esgazeado, um perfil familiar no semáforo parado.

Arrependido do meu passo de corrida, não rolo mais pela cidade a toda a brida, pois, se à nuca arriba o arrepio, estougo o passo e aquele corpo reaprecio.

Não que fosse uma estampa de tão bonita, mas portava uma linha assaz catita. Era como uma velha amante, fazia-me sentir o Diogo Infante, com ela fui ao reino da Dinamarca e aportei à pátria do Petrarca.

Ó fiel companheira, Inch'Allah que te revi, minha Laguna prazenteira, de teu nome 83-15-HI.




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7 de novembro de 2007

Retalhos da vida de um consultor



Eles de gel, tez de cal, camisa amarela e gravatuncha verde, sapato de borracha, que é mais confortável, discutem com o calor dos grandes debates de quantos milissegundos é feita a transmissão de dados por satélite e as suas vantagens e inconvenientes face à tradicional transmissão por cabo. Elas, colar de crucifixo, túnicas cai-cai e alça do soutien à vista, portadoras de um agradável odor a perfume lavanda, descrevem cada pormenor da última visita ao pediatra que examinou o génio do seu rebento ou as graçolas que se disseram na última sessão do Por um Casamento de Sonho.

As piadas homofóbicas, conversas sobre a arbitragem nacional, os relatos dos Gatos Fedorentos, em alternância com os desafios que a nossa firma tem de enfrentar num quadro de acrescida concorrência, só superável com o espírito de equipa, combatividade e amor à camisola que nos distingue.

O branding, o client relationship, o targeting, os receivables, a performance, o team playing e o team building, o feedback, o role model e o management.

A moradia na Quinta da Marinha, o Lamborghini e o Rolex para uns, o apartamento em Telheiras, o BM e as férias em Punta Cana - "all inclusive", pois claro- para outros.

A imaginativa substituição de substantivos por verbos no infinitivo - "o que é importante é o gostarmos daquilo que fazemos, é o estarmos de bem com a vida e com nós mesmos". A proliferação dos inhos e das inhas - "Agora há uns separadorzinhos que até dá gosto arquivar, fica tudo arrumadinho".

A gaja que masca ruidosamente a pastilha e o tipo que acaba metade das banalidades que profere com a interjeição expressivo-interrogativa "..., ?".

E os e-mails em cadeia. As frases sempre terminadas com inúmeros pontos de exclamação. As apresentações (prazer em conhecer) em Power Point com letrinhas muito coloridas que vão saltitando pelo ecrã, acompanhadas daquela musiquinha bonitinha tão apta para limpar o cuzinho. Os e-mails a pedir sangue, a requerer pedaços da nossa medula, se alguém viu a criança desaparecida, pobres dos pais, imagine que isso lhe acontecia a si. As correntes de solidariedade com as vítimas do Darfur, do Tibete, da Birmânia ("Olha que não é Birmânia, é Myanmar", ai mas a geral cultura do fulano), a Maddie, as fotos do trágico acidente rodoviário na A23, o vídeo do Cristiano Ronaldo, a localização dos radares na A1.

Procura-se bazuca, com munições. Providenciam-se alvíssaras.

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