26 de janeiro de 2009

Retalho

Recolhe as moedas todas espalhadas pelo passeio e pára de desafiar os transeuntes com aquele olhar de incriminação, a rapariga dos sapatos descascados e das roupas dois números acima da sua actual medida. De súbito, rompe num pranto e pede-me cigarros (em vez das moedas que me enchem o bolso pequenos dos jeans importunando o osso cujo nome desconheço, aquele que fica na esquina da anca). A mudança de alvo terá sido provocada por uns sujeitos que se aproximam, apercebo-me quando a rapariga se enrosca nos seus trapos e, com um arrepio, lança o canto do olho para os dois impecáveis polícias que cirandam ali pela esquina com os seus asseados uniformes azuis: pensará a rapariga estarem fazendo ronda aos seus metaizinhos preciosos e em serviço a bófia pelo menos ainda não fuma, tal mancharia a limpeza da corporação, o que não quer dizer que não roube, e a rapariga essas coisas lá terá aprendido nas aulas que a rua lhe deu, treinando-a para desmascarar o perigo, use ele o disfarce que lhe aprouver, que mil formas toma o Diabo. O vagabundo que lhe faz as vezes de um parceiro insiste em soltar-lhe imprecações ininteligíveis (que a rapariga visivelmente compreende) não satisfeito por lhe ter aplicado um violento pontapé no caixote de cartão castanho onde antes jaziam as economias (comuns?) recolhidas ao longo do dia. Finalmente vai-se, numa ira tamanha, sei lá eu porquê (sabê-lo-á a rapariga dos olhos de gato, mas entre marido e mulher, já dizia o outro).

Aproximo-me dela e faço como se me fosse sentar.

"Posso?" – indago com deferência, a modos de quem pede para entrar no hall da casa.

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22 de janeiro de 2009

Retalho

Assim, Carlos, por uns tempos, trabalhou, comeu e dormiu por entre as cinzas da Grande Fábrica Panificadora na Grande Cidade. Pegava no serviço às oito da noite e não o largava antes de o sol retomar a sua descida. O seu trabalho consistia em alimentar a enorme fornalha e limpar a escória sobejante, alimentar a enorme fornalha, limpar a escória sobejante, alimentar a enorme fornalha e limpar a escória sobejante. Enquanto se ocupava destas tarefas, outros homens encostavam-se às mesas de pedra e amassavam farinha, amassavam farinha, davam-lhe forma, davam-lhe forma, amassavam farinha, amassavam farinha, davam-lhe forma, davam-lhe forma. Os braços dos trabalhadores e o calor da fornalha produziam os únicos sons: ninguém dizia palavra, o que seria, aliás, inútil, se ninguém falava a mesma língua.

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16 de janeiro de 2009

Amor de pai ou como Oscar Wilde reencarnou ontem em Lisboa

Ontem, aniversário de um tipo já graúdo, aos olhos dos progenitores ainda sempre o miúdo.

A mãe celebra a ocasião, como é de tradição lá em casa, com um belo discurso recheado de emoção, aparentemente contida dentro dos muros da eloquência, correcta construção frásica e singular ordenação de ideias.

Desafiando a mesma tradição da casa, o irmão mais novo (fedelho que, abrigado pelo escudo protector do varão aniversariante, saiu, como é dos livros, o provocador inato da família) lança o repto ao pai: discurso!

Contrariando as expectativas, este não protesta, mira o filho mais velho e profere:

"Quando te vi pela primeira vez, pensei: como é possível amar tanto um tipo que nem conheço?"

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15 de janeiro de 2009

Parecem bandos de pardais à solta, os...


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13 de janeiro de 2009

Boutique


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Cowboys


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Road to nowhere


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Beware!


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