Máxima
Mal toma consciência de que a chamam, Máxima deixa o pinheiro para trás e desata a correr com ímpeto de pavor. A mata é espessa e Máxima pouco enxerga naquela neblina, arranha-se por silvas, azevinhos e giestas, desvia-se de pinheiros, carvalhos e vidoeiros, tropeça em calhaus de quartzo, escorrega em camadas de caruma, ouve (ou pensa ouvir) o bater das asas de uns corvos tomados do mesmo pânico, Máxima é um animal acossado numa fuga que vale a vida. Debalde: a voz cava teima em fazer-se ouvir: Máxima, Máxima!
Não olha para trás, continua a correr sem destino, bem sabe que as forças lhe vão acabar, os pulmões são foles furados, as pernas bigornas, o cabelo é vime que lhe atrapalha os olhos, o pescoço uma camurça húmida de transpiração e a voz, sempre a voz, sopra-lhe nos ouvidos um bafo quente: Máxima, Máxima.
Sente uma bofetada no rosto e pára, estaca sem que o tivesse ordenado aos membros. A cara arde-lhe como uma febre. O nevoeiro dissipa-se e Máxima apercebe-se que não se encontra em bosque algum, mas deitada numa cama, a sua cama.
“Máxima, Máxima!! O que tens?”
“Nada. Não tenho nada.”
(Cont.)
6 comments:
Um sonho lúgubre...animal e perigosamente sensual... Podia ter de banda sonora o Cão de Morte dos MM. (isto eu a imaginar)
.. safa!
li de um folego .. :) espero a continuação.
Eu já estava a ver o Henrique (ressuscitado mas em mau estado) a correr atrás da pobre rapariga...
Calma...
Uma bofetada! Poça...
Estou cada vez mais curiosa!
Assustador seria se o tal perseguidor fosse um Caetano Veloso ávido por tergiversar verborragias místicas sobre a beleza neotropicalista e transcendental do beija-flor.
Ui!
Bêjo brasileiro
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