Steve Reich - Music for 18 Musicians
"Esta música é matemática, pura".
Às folhas tantas
Do livro matemático
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a do ápice à base
Uma figura ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua
Uma vida paralela à dela
Até que se encontraram no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
Em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
A almas irmãs)
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
Nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar,
Um perpendicular.
Convidaram para padrinhoso
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Freqüentador de círculos concêntricos,
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta.
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um Todo,
Uma unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração,
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás em qualquer
Sociedade.
Millôr Fernandes
1 comments:
Aliás, a música, ou melhor, a construção musical, é matemática pura!
Não conhecia, mas que poema divinal! Parece tão simples ó Millôr...
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