Retalho
Assim, Carlos, por uns tempos, trabalhou, comeu e dormiu por entre as cinzas da Grande Fábrica Panificadora na Grande Cidade. Pegava no serviço às oito da noite e não o largava antes de o sol retomar a sua descida. O seu trabalho consistia em alimentar a enorme fornalha e limpar a escória sobejante, alimentar a enorme fornalha, limpar a escória sobejante, alimentar a enorme fornalha e limpar a escória sobejante. Enquanto se ocupava destas tarefas, outros homens encostavam-se às mesas de pedra e amassavam farinha, amassavam farinha, davam-lhe forma, davam-lhe forma, amassavam farinha, amassavam farinha, davam-lhe forma, davam-lhe forma. Os braços dos trabalhadores e o calor da fornalha produziam os únicos sons: ninguém dizia palavra, o que seria, aliás, inútil, se ninguém falava a mesma língua.
3 comments:
É no que dá ter chineses, ucranianos e tailandeses... :)
brutal ..!
Já me perdi por aqui nos retalhos, todos, sem excepção, de um desconcerto amargo.
Mas .. muito, muito bem escritos.
Obrigado, Once, perca-se sempre.
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