Born with a gift of a golden voice
De fato e gravata negros, o velho e elegante mobster Mr. Cohen entra em palco, de guitarra em punho, para se defender do público que o aclama na tribuna de Toronto. Desarma-o com o chapéu, que retira galante.
Amiúde pedirá ao público que se sente, porque amiúde este o ovaciona de pé. Ele fica nervoso quando se levantam, explica num tom de falsa timidez, teme que queiram deixar a sala.
Do seu reportório essencial, nada fica de fora. São mais de três horas de concerto, três horas de música, poesia e humor. Negro e charmoso. Refinado e inteligente. Esteve quinze anos fora do palco, até que uma manager qualquer fez o favor de lhe aligeirar consideravelmente a conta bancária e o cavalheiro teve de se fazer à vida. Bendita ladra.
“Democracy is coming to the USA”, canta aquela voz grave e profunda com especial intensidade. Originando, claro está, mais um pedido para a plateia se sentar.
Ninguém acompanha as canções, num canadiano silêncio reverencial pelo autor. Ninguém excepto duas jovens imberbes imediatamente por detrás de nós e dois portugueses que tiveram o privilégio de assistir e de se emocionar com o concerto das suas vidas. Até ao choro. Incomodando os canadianos ao lado.
Mr. Cohen tenta terminar o concerto, bem a propósito, com “I tried to leave you”. Mas não consegue, pois que o público o aclama incessantemente, mal termina a canção. Dá para mais um passinho de tango malandro, ao som de “Dance me to the End of Love” com que havia iniciado.
Depois de uma noite destas, até a asséptica Toronto parecia um lugar singular e emocionante. Como parecerá Lisboa, a 19 de Julho, depois de um concerto à beira-Tejo? Eu estarei lá para descobrir.
Allelujah.
2 comments:
Que inveja!
E se por cá é a 19 de Julho, não vai dar também. Porra p'ra isto...
Que belo relato. Como de costume!
Bom concerto e, já agora, depois conta como foi! :)
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