8 de fevereiro de 2008

O redoengo

“O redoengo fitou-o malevolamente, a saliva escorria das suas mandíbulas fortes e ferozes, reluziam os seus enormes e aguçados dentes no reflexo da luz invernosa.”

Mas o que vem a ser um redoengo?

Não sei bem. Uma criatura feroz e má. Qualquer coisa do género do monstro do Alien.

Mas isso é ficção científica. Nem é bem o teu género, pois não?

Não. Só que quero passar para o papel a raiva que estou a sentir contra o meu chefe face à pressão a que tenho sido sujeito nos últimos tempos. Uma atmosfera de terror num quadro de ficção científica pareceu-me um meio adequado para transmitir esse sentimento. Isto tem sido uma seca e não tenho tempo para escrever nada de jeito. Então pensei em aproveitar a onda para escrever qualquer coisa minimamente decente.

Tentemos outra abordagem. Não inventes palavras ou criaturas, para isso já bastou aquela coisa horrorosa do Deniepropeteco. Nada de redoengos. Sê objectivo e directo.

“Estava furioso.”

Muito bem. Nada pode ser mais directo do que isso.

...

E então? Porque esperamos?

Estava furioso com o quê?

Sei lá. Tu é que estás a contar a história. Inventa. Socorre-te das tuas próprias vivências.

"Estava furioso. Odiava-o. E não odiava só a ele. Odiava o mundo inteiro. Seguindo o instinto, foi ao corredor, pegou no machado que estava junto ao extintor de incêndio e desatou a cortar cabeças, não olhando a colegas, através de sucessivos e impiedosos golpes que faziam jorrar golfadas de sangue, cobrindo o escritório de um imenso lago escarlate. "

Isto parece-me demasiado sangrento e violento. É de gosto duvidoso e fará os teus leitores desistir à primeira página. Além disso, como vais superar este começo? Assim, a história nunca terá um clímax. Como conseguirás ter um final mais dramático do que “sucessivos e impiedosos golpes que faziam jorrar golfadas de sangue, cobrindo o escritório de um imenso lago escarlate”? O meu conselho é que comeces de modo mais prudente, menos complexo, e vás elevando o tom à medida que a narrativa se desenrole. E mantém a coisa real. Pega nas tuas experiências e observa o que vês à tua volta.

“Era de manhã.”

Eu disse simples, mas não elementar. Tem de ser simples, mas interessante. Essa frase é apenas simples. Desenvolve. Era de manhã. Conta-nos mais.

“Era uma manhã cinzenta de Inverno."

Está melhor, mas precisamos de mais detalhe e originalidade. Precisas de agarrar o leitor desde o início com as palavras certas, se queres prendê-lo até ao fim de uma história longa.

Isto está a ser muito difícil. E se escrevesse umas tretas para o blog e pronto?

Vá lá, tens de ser persistente, nunca ninguém disse que escrever uma verdadeira história fosse fácil. Ninguém aprende a tocar piano à primeira, é preciso persistência e prática.

Eu sei, mas isto não me está a dar gozo nenhum. Escrever para o blog é muito mais fácil. Escreve-se o que te vem à cabeça e pronto.

Deixa-te de tretas. Aplica-te, preguiçoso. Deixa lá o blog e concentra-te em desenvolver a história. Esta ou outra qualquer que te inspire. Deixa o blog por uns tempos e pratica. Quando a escrita fluir, podes voltar às tuas parvoíces, será bom para desopilar.

Ok.

“De Invernos idos lembro-me das manhãs cinzentas. Manhãs cinzentas como não se fazem mais.

É a memória que me faz tiritar de frio quando penso nos penosos passos que me conduziam, a medo, rompendo o nevoeiro, a caminho da escola.”

Boa imagem. Talvez século XIX em demasia, mas não está mal. Talvez demasiado palavroso, diria eu. Mas é um bom começo. Agora concentra-te, aperfeiçoa e persiste. Não te disperses com o blog nos próximos tempos. Por uma vez, tenta.

2 comments:

Anónimo,  17 de fevereiro de 2008 às 20:39  

O redoengo esta muito bom. Saudacoes MCP

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