12 de setembro de 2007

O Careca levado da b(r)eca

Sob o pretexto de um aniversário, almoço com amigos de longa data. São uma verdadeira terapia, estas tertúlias.

Um de nós, cuja identidade à cautela não revelarei, não vá eu sofrer represálias, pois que a justiça é cega e não olha aos afectos, é personificação de um órgão de soberania da república.

Chegou longe, portanto, o que de todo em todo é causa de espanto para qualquer dos outros, dadas as suas qualidades intelectuais e académicas, reconhecida e consensualmente superiores às dos outros mortais convivas (sem mencionar as qualidades humanas, ibastas, mas que não vêm agora a propósito).

A ilustre carreira da magistratura que esse nosso amigo prosseguiu com tanto sucesso foi também o resultado de uma escolha em tudo adequada a alguns traços da sua personalidade. O homem tem um profundo espírito inquisitivo e nunca se fia nas afirmações de quem quer que seja, mesmo dos seus mais próximos. Exemplo.

A malta discutia as vantagens de pertencer a algumas agremiações, cuja titularidade implicaria o direito a descontos em gasolineiras e afins. O aniversariante diz que, por desleixo, não retirava qualquer proveito dos cartões de associado e que a única vez que tinha usado de descontos desse tipo teria sido com o vetusto cartão jovem.

Eis que o magistrado, usando do seu fino e rigoroso espírito cartesiano, questiona, com um sorriso malicioso nos lábios:
"Mas tu usavas o cartão jovem? Usavas em quê o cartão jovem?"
Ao que o outro, responde, não sem que transparecesse um ligeiro e irracional temor com a acutilância da questão:
"Sei lá, por exemplo, nos transportes".
"Mas quais transportes, alguma vez fizeste Inter-Rail, pá?"
"Não, isso não fiz. Mas usava nos comboios, de qualquer modo."
"O quê, usavas em que comboios, pá, daqui para Sintra e depois davam-te boleia para as Maçãs, não? Usavas lá tu cartão jovem, pá".
Cansado e arrasado, o meu amigo mais humilde deu por terminado o debate e admite nunca ter usado tal coisa.
Se a coisa é assim entre amigos, o que será nos tribunais. O casal McCann bem fez em pirar-se para a terrinha, não fora a Roda da Fortuna apontar o nosso amigo para vingar a Justiça Nacional das calúnias dos tablóides anglófonos.

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