31 de agosto de 2007

VPV, esse monstro das letras portuguesas

Por influência familiar, ganhei o hábito, melhor dizendo, o vício, da leitura diária de vários jornais. Quando petiz, a chegada a casa do meu progenitor era naturalmente aguardada com expectativa. Uma não insignificante parcela desse ansiado prazer devia-se aos exemplares de jornais que ele trazia consigo e que eu e o meu irmão disputavámos com algazarra.

Carinhosamente, e não sem um indisfarçado orgulho paternal, entregava-nos, pelo menos, o "Diário de Notícias" (antes de o terem transformado numa obscena imitação do "Correio da Manhã") e o "Diário de Lisboa" (antes de a demografia ter acabado com o marxismo em Portugal e, com ele arrastado para a falência o periódico). O pasquim "A Bola" sempre ficou por minha conta e o "Tintin" por conta do meu mano.

As sextas feiras traziam ainda maior expectativa, porque vinha também o "Jornal" (antes de o terem transformado na colorida "Visão"), o "Sete" e o "Jornal de Letras" (antes de eu me ter transformado no grunho inculto que sou hoje).

Veio, muito mais tarde, o "Público" (antes de uma remodelação gráfica o ter tornado em mais "um" jornal). Gostava, em especial, da rotina diária de ler o Calvin & Hobbes na última página, em diálogo contrastante com as crónicas do EPC. Se os primeiros andam perdidos no meio do jornal, infelizmente do segundo não restará senão a memória.

Hoje não há jornal nenhum que me dê verdadeiro prazer, com a excepção do "Público" de sexta-feira. Para além do Y, gosto em especial das crónicas do Vasco Pulido Valente. O homem, presumo que para seu azedo desgosto, nunca chegará a disputar qualquer putativo troféu de jornalismo com o EPC (nem sequer quando este, exagerando o seu galicismo obscuro, se tornava totalmente incompreensível para tipos apenas curiosos). Mas, quanto a mim, consegue ser tão ou mais divertido do que o Calvin & Hobbes. Ele há melhor maneira de começar um fim de semana do que com uma tirada deste calibre?

"Fátima fica ao pé do Entrocamento, na altura o nó de toda a rede ferroviária portuguesa. Como a linha de 1866 "fez" Lourdes, o Entroncamento "fez" Fátima. Se os pastorinhos vivessem em Bragança, nunca se teria ouvido falar deles. Com o tempo, claro, o carro e o autocarro substituíram o comboio e o Entroncamento deixou de contar. Infelizmente, o problema é agora a "internacionalização de Fátima e essa "internacionalização" requer um aeroporto. O Vaticano fundou uma companhia low cost para o "turismo religioso", inaugurada esta semana com um voo Roma-Lourdes. Se o Estado português não intervier (pagando um aeroporto, evidentemente), Fátima está em risco de se tornar um "destino" secundário e de perder 150.000 peregrinos por ano. Resta saber se o Estado vai ou não subsidiar a Igreja. Com o nosso dinheiro."

Ofereceria, de bom grado, como sinal de reconhecimento por todos os momentos de boa disposição que aquela grada figura das letras portuguesas me tem proporcionado, uma t-shirt que possuo e que reproduz uma frase genial do grande Vinicius de Moraes: "O Whisky é o melhor amigo do homem: o cão engarrafado". Estou certo que o VPV a usaria com todo o gosto.

3 comments:

Max Coutinho 3 de setembro de 2007 às 18:31  

Oi!

O meu nome é Max!
Engraçado, dantes também adorava ler jornais, mas hoje em dia parece que já não tem piada (dá-me a sensação de que foram adulterados, sei lá)!

Espero que venhas visitar o meu blog (está escrito em Inglês, mas também tem a versão Portuguesa - para prestar homenagem aos meus compatriotas):

http://maxcouti.blogspot.com

Cheers!

Anónimo,  3 de setembro de 2007 às 20:17  

E leste a de sábado?, "A invasão dos ratos". Genial!

Tiago 3 de setembro de 2007 às 22:44  

Max, sláinte mnath (pergunta a um amigo irlandês o que isto quer dizer, eles explicam-te).
Fishy, infelizmente li "a invasão dos ratos". Mesmo antes do jantar...

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